Um enlace de
expectativa desmedida, cortar o vento em direcção ao movimento contrário da
nossa memória. Não ter medo, encontrar o segredo para a cogitação perfeita do
meu ser, para que a existência não se faça apenas ao acaso, mas sim por motivo
digno…
Quero que as palavras
saiam da minha boca como penas e não mais carregar o seu peso, sem ensejo que
seja desmedido, com o entusiasmo da idade que me cabe. Quero poder gritar,
ainda que em surdina, o que bem entender. Liberdade única, esta, a de mover o
mundo em dois dedos, apenas tocando – te, apenas deslizando a mão sob a tua
carne, sensação que perdura pelo contorno da respiração inóspita… calor,
pequenos gemidos, turbulência interior, agitação, corpos, as mãos, os braços,
as minhas pernas sobre as tuas, lábios suculentos, sedentos de vida, um húmido
clamor entre gesto e toque…
Serão cartas? Serão diários? Serão prosa ou
textos desconexos, corridos, no entanto, fragmentados, tal como o pensamento de
quem os pensa e expõe? Não sei… apenas sei que são uma vontade incontrolável de
contornar a maré de compressão, esta estupida catapulta que me lança ao quase
desespero, a uma impossibilidade de amar; sob a sombra de uma desmesura espessa,
encorpada, bem capaz de criar raízes.
Eu quero, eu quero, eu
quero – te. Jurei não mais cair sob o peso obscuro de uma paixão assoladora,
uma paixão inerte, sem pernas, uma paixão fraca em mover – se, em existir. Não quero
mais ter de lembrar a chama de um inferno tentador, no entanto, mesquinho,
sombrio… cair na contemplação, apenas olhando o outro, apenas visível ao cair
no sono embevecido, no sonho realista mas falso. Desta vez não esperarei, irei,
se não der não deu, se ficar pasmada, especada à espera não mais me perdoarei…
fogo, treva, cinza…
Escrevo agora por
vontade tua, não minha. Devolveste – me este privilégio e quero, profundamente,
agradecer – to. A cintilante paixão crepita, uma vaga de nuvens preenche o
vazio e traduz a coerência do desejo, ai como te desejo. No mais profundo
silêncio estabeleço – me, fixo – me, sob a terra sinto os pés, finalmente, a
pousar. Conseguirei dizer – te através de um simples olhar a vontade que
trespassa as paredes desta minha inquieta existência, o soalho deste meu rosto
ainda jovem, ainda perdido na vastidão dos imensos e assustadores olhares em
redor? Como conseguirei eu? A única resposta que anseio é esta, mais do que uma
palavra de permissão, mais do que um sorriso doce, quero tanto mas tanto sentir
– te e poder dizer – to. Quero efectivar esta vontade, quero que seja não mais
um sonho, ou uma promessa mas a concretização de uma vontade tão simples e bela
como esta, a de te ter sob meus braços e de partilhar o desejo e a virilidade
do meu corpo aceso, fervoroso, pronto para o deleite tentador de noites
infindáveis de sexo, de troca e partilha de pequenas palavras, entre sons e
respirações aceleradas e compressão do ar para que possamos escutar a sua falta
no mais prazeroso dos lugares da terra.