Quando olho a
desolação humana, o desencanto da carne… fico pasmada e o abismo interioriza –
se como configuração espontânea. Ao olhar o espelho vejo o que nunca quis ver,
o corpo vendido ao desacato mundano, extenuado, cansado e doente. O sangue
escorre, as feridas vão – se acumulando, entre cortes profundos e difíceis de sarar
e pequenos traços sangrentos, depois a alma queda, o rumo joga – se ao
desalento, e tudo se transforma, tudo se entreve através da imprevisibilidade
dos afetos.
Quando choro
não choro. Todos os dias o faço, é uma espécie de rotina que me permitirá validar
a minha existência, pois sem isso seria incompreensível permanecer. Esquecer,
quero esquecer as noites frias, o adeus de ontem, o não de hoje. Dispo – te com a cobardia do meu olhar,
enfrento – te com a coragem dos meus actos, no entanto, morro entre os teus
braços. Fico imobilizada num doce embalo nocturno.
Cerca – me a
beleza eterna do fazer em liberdade, cerca – me a beleza dos homens na sua
procura de satisfação, cerca – me a finitude de um gesto magnifico. Perco o
olhar na partitura do quotidiano e por entre notas e pausas não me apercebo da
minha degradação contínua, da exposição do meu corpo à fieldade envolvente, ao
podre que é a superfície. Falta – me a coragem para viver em paz, nessa paz que
anseio. Falta – me… fizeste – me falta. Agora durmo sozinha na desordem
numérica dos dias que em que terei de viver ainda. Esgotam – se as hipóteses de
ser o animal imputável, dividido entre o silencio e um pretérito imperfeito
falível.
Parece não
haver esperança nestas palavras, no entanto, são o evidente grito de revolta.
Será através delas que o fio conduzirá ao mais próximo do que posso chamar
felicidade. Em última instância morro, desapareço de vez.